terça-feira, 21 de outubro de 2008

É CONSENSO para organizações internacionais como Unicef e FAO (Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) que a produção mundial de alimentos é mais que suficiente para cobrir as necessidades terrestres. Porém, durante a leitura deste artigo, 60 crianças no planeta morrerão de desnutrição e, ao fim do dia, serão quase 20 mil. Na Etiópia, onde trabalho em uma emergência nutricional com Médicos Sem Fronteiras (MSF), todos os dias me pergunto por onde anda a mão invisível e mágica do mercado global, o melhor regulador da economia. Nenhuma das pessoas que vi morrer de fome por aqui parecia conhecê-la. Em Kambata, no sul da Etiópia, fica bem clara uma das lógicas geradoras de fome. Dedicadas à produção de gengibre para o mercado externo, muitas famílias de pequenos produtores deixaram de produzir comida para consumo próprio, imaginando que, com a venda da colheita, poderiam comprar os insumos necessários a seu sustento. O preço do gengibre, contudo, ficou abaixo do esperado, o custo dos alimentos subiu, agravado pela crise mundial e pelo clima local e, como resultado, a fome chegou. Crise semelhante se deu no Níger, em 2005, onde à insuficiente produção de subsistência uniram-se a seca e os ataques de gafanhotos à lavoura. Nesse país, onde MSF já cuidou de mais de 500 mil crianças desnutridas, ao mesmo porto de onde partiam navios abarrotados de cereais para exportação chegavam carregamentos de ajuda alimentar para a faminta população local. Embora o aumento do custo dos alimentos seja um importante fator de crise, é preciso lembrar que ele apenas agrava uma situação crônica. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a desnutrição representa 10% de todas as doenças e já vem sendo há muito tempo negligenciada pela comunidade internacional. De acordo com a Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais, iniciativa de MSF, apenas 3% dos 20 milhões de crianças com desnutrição severa recebem o tratamento recomendado pela ONU. Quando a escassez de comida é intensa, as famílias reduzem o número de refeições e precisam abrir mão de bens essenciais, como gado e até a própria casa. Se a situação piora, as estruturas da comunidade entram em colapso, aumenta a violência, iniciam-se grandes ondas migratórias e os indivíduos menos valorizados na cadeia produtiva, como meninas e órfãos, tendem à marginalização. O momento final e mais grave ocorre quando há falta absoluta de alimentos, afetando uma grande população por um longo período. Nesse caso, o cenário é desolador, e a mortalidade, altíssima. Em um acelerado processo de degradação humana, parte de um povo vai sendo consumido e sua descendência poderá ter a capacidade cognitiva prejudicada pela falta de acesso aos nutrientes adequados. Aqui em Kambata, diariamente mais de 3.000 pessoas procuram nossos centros de nutrição. Há dias que precisamos interromper as atividades, com medo de perder o controle da multidão desesperada. Alguns pacientes estão tão fracos que nem conseguem engolir. É difícil descrever a aparência da fome. A criança desnutrida é triste, parada, tem cara de velhinho e, algumas, por causa da carência protéica, ficam com as pernas e o rosto inchados. Mesmo assim, é possível salvar muitas vidas e, especialmente no caso das crianças, após duas semanas de tratamento, o rosto muda tanto que quase não dá para reconhecer. Duas identidades me são evocadas no trabalho na Etiópia. A de médico e a de brasileiro. A de médico de MSF Brasil me faz lembrar que é muitas vezes nos centros de saúde que fenômenos como a fome e a violência mostram sua cara mais feia e que, embora sejam essenciais programas de desenvolvimento para evitar as crises, eles não devem ser feitos em detrimento de respostas emergenciais necessárias. A de cidadão brasileiro me faz desejar que nosso país, que tem produzido algumas tecnologias bem-sucedidas de combate à pobreza e à fome, seja mais proativo em sua política de cooperação com outras nações do Sul. O Brasil que precisa de ajuda também tem condições de ajudar. Há alguns dias, perdemos Mamushe, uma menina com nove anos, desnutrição severa e ares de princesa etíope. Sempre que Mamushe me perguntava onde era o Brasil, eu respondia "Longe". Na madrugada em que tentei reanimá-la, o corpo fraquinho não resistiu e se foi. Ao ouvir o pranto de sua mãe, lembrei-me de uma frase proferida pelo escritor moçambicano Mia Couto na ocasião do tsunami "Nunca é longe o lugar de onde nos chega um grito de apelo. O sofrimento atingiu também a nós. O vosso luto é o nosso luto".
David Oliveira de Souza
Folha de S.Paulo, 17.8.2008
A fome está rondando o mundo enteiro, mesmo que você não queira ela sempre está presente.
Na etiópia é um dos casos de miséria e um lugar onde a verba não chega, crianças morrendo e muitas pessoas necessitando de alimento. Aqui no Brasil também é um caso disso; ainda mais com as coisas que estão acontecendo no mundo
é assim no mundo que estamos vivendo. Vamos economizar para que o mundo não sofra como já está sofrendo.
Postado por : Tamires Amaral, Angell da Conceição e por Priscila André.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"A União Europeia e o Brasil devem priorizar a luta contra A Fome e não apenas interesses empresariais"



Portugal
e Brasil têm a oportunidade histórica de estabelecer uma aliança politica que coloque
a luta contra a fome como prioridade internacional, disse hoje (4 Julho) a organização não
governamental internacional ActionAid, dia de encontro entre o Presidente Lula e o governo
português.
Enquanto Portugal assume a presidência da União Europeia, está a decorrer em Fortaleza a III
Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Brasil (III CNSAN) na qual está
presente uma delegação da sociedade civil de todos os PALOPs
(Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa)
no âmbito das actividades paralelas organizadas pela
ActionAid
Internacional, ONG que luta contra a fome e a pobreza em mais de 40 países.
O encontro entre o Presidente Lula e o governo português pretende estabelecer uma parceria
estratégica entre os dois países para acção conjunta no plano internacional. O Brasil como
grande animador do grupo de países do G 77 e Portugal como pais que preside á
União
Europeia
pretendem negociar a conclusão de importantes negociações entre a
União Europeia
e os países do Sul Portugal e Brasil têm a oportunidade como disse em 1996 o presidente Angolano,
José
Eduardo dos Santos
, - de passar da retórica sentimental à implementação de acções
concretas que devolvam a dignidade a milhões de pessoas com fome em Africa ” , disse,
Francisco Sarmento, Director da Área de Direito a Alimentação da ActionAid Internacional.
Para isso exige-se um empenho politico coordenado nos diversos organismos
internacionais e uma abertura efectiva e institucional ao dialogo com a sociedade civil
para que as iniciativas e propostas apresentadas correspondam de facto aos anseios e
necessidades das populações mais afectadas pela fome."